Muitas ciclistas que almejam alta performance querem perder peso a todo custo para melhorar a relação peso x potência. Porém, tome cuidado pois, você pode desenvolver o RED-S e isso pode ser mais prejudicial à sua saúde do que os “benefícios” com a perda de peso. Veja o texto abaixo da Dra. Fernanda Lima, médica do esporte e sócia da Clinica Move para entender melhor.
RED’S – Síndrome da Deficiência Energética Relativa no Esporte (Por: Dra Fernanda Lima)
O RED-S é uma sigla da língua inglesa que significa “Relative Energy Deficiency in Sport” ou Síndrome da Deficiência energética relativa no esporte. Nos últimos anos, ela vem sendo descrita em homens e mulheres nos vários esportes, tanto nos atletas profissionais, como também nos recreativos.
Na prática, o RED-S engloba um conjunto de sintomas decorrente de um desequilíbrio entre o aporte calórico necessário (o quanto o atleta ingere em alimento e suplemento) e o gasto energético durante a prática de esporte (o quanto ele gasta em treinamento). Entra também nessa conta a quantidade de energia necessária para que o organismo execute as funções fisiológicas do dia a dia.
É claro que existe um inegável benefício para a performance de se manter uma composição corporal balanceada de massa magra e massa gorda. No ciclismo isso é muito claro ao notarmos a relação peso/potência ideal para subir uma montanha. No entanto, o RED-S aparece porque, muitas vezes, o atleta acredita que vai melhorar a sua performance se conseguir baixar mais e mais o seu peso corporal, por meio de uma restrição alimentar aliada e/ou a aumento no volume de treino. Se esse comportamento se arrastar ao longo de uma temporada, certamente pode trazer mais prejuízo para sua saúde e perfomance do que o ganho desejado.
Essa supressão de energia proporcional ao volume de treino imposto deixa o atleta em um estado de baixa disponibilidade energética. Quando isso acontece, o organismo praticamente “desliga” algumas funções essenciais para a saúde, pois toda a energia está sendo consumida no treinamento.
Essa baixa disponibilidade energética pode provocar:
- deficiências nutricionais
- alterações hormonais (como a ausência de menstruarão)
- fadiga crônica
- lesões osteomusculares de repetição
- maior risco de infecções
- diminuição da capacidade aeróbia e força muscular
- redução da coordenação motora do gesto motor
- alterações do sono
- alterações do humor com irritabilidade, ansiedade e até depressão
A manutenção crônica, por anos, dessa deficiência energética implica também em alterações tardias no sistema cardiovascular, na redução da síntese proteica, e na osteoporose. Essas alterações tardias vão impactar o atleta muitos anos depois e aceleram o processo de envelhecimento.
Portanto, alguns pontos devem ser bem claros para os atletas profissionais e recreativos para evitar o surgimento da RED-S:
- A falta da menstruação na atleta feminina NÃO é uma situação normal de treino e pode ser um primeiro sintoma da síndrome RED-S.
- Se o volume de treino aumenta durante a temporada, o aporte energético também deve subir, para se manter um balanço energético adequado.
- Atenção para treino exagerado e contínuo, sem fases regenerativas.
- Cuidado ao se perseguir um biótipo ideal para melhorar a performance. Muitas vezes o peso absoluto final pode não ser o principal fator determinante da performance. A perda de peso excessiva pode implicar em perda de força e, consequentemente, de performance.
- Estudos científicos já identificaram ferramentas para detectar se você está sob risco de ter RED-S. O médico ou nutricionista do esporte conseguem jogar os seus números em fórmulas e detectar o seu risco.
Portanto, se o seu rendimento começar a cair de forma inexplicada, lembre-se que você pode estar iniciando uma Síndrome RED-S.
Dra. Fernanda Lima (Clínica Move)